segunda-feira, 9 de julho de 2007

Sobre Rock Pauleira

por Aguirre Talento


Os metaleiros são uns chatos. Isso, os “metaleiros”, porque não darei a eles o prazer de ser chamados de headbangers. E quem está dizendo isso não é um Arnaldo Jabor ou um Sérgio Martins da vida, que criticam sem nem nunca ter ido a um show de metal (obviamente isso é uma suposição minha, mas muito provavelmente verdadeira). Eu já fui a muitos shows, tinha uma freqüência assídua, não perdia um. Ia com amigos, com conhecidos, ou muitas vezes fui até sozinho, o que me importava era ir lá curtir meu som. Mas, ultimamente, enchi o saco.
Não, não enjoei de metal. Longe disso. Sempre ouço metal, e de vários estilos, do heavy ao death, passando por vários aí pelo meio. A questão é que, no início, é só metal. Metal, metal e metal. Além de uma ânsia por conhecer novas bandas, por ouvir aquela banda nova da Finlândia que lançou seu primeiro álbum há um mês atrás, por conseguir material daquela banda clássica que calcou as bases do estilo, enfim; uma ânsia por heavy metal. Mas há um bom tempo já rompi essa monogamia. É, eu corneei o metal. Comecei a escutar jazz, MPB, pop rock, até música brega. E vi que outras coisas também são “do caralho”, sem precisar tem guitarras dobradas, bumbo duplo, vocal gutural...

Ah, mas vá dizer algo disso pra um “metaleiro”... Para eles, é o metal na terra, no céu e no inferno (no inferno principalmente). E apenas isso. Não enxergam um palmo à frente do nariz, talvez porque o cabelo esteja atrapalhando. É um radicalismo vazio. Não, caras, o metal não é uma ideologia. Aliás, hoje em dia, as ideologias estão em baixa. O homem pós-moderno é múltiplo, sem por isso se tornar contraditório. A pós-modernidade rompeu as divisões e juntou tudo em um mesmo balaio. “Metaleiro”, você pode escutar também Miles Davis, Chico Buarque, Roupa Nova, Reginaldo Rossi, e sem medo de ser feliz. Isso não te fará menos homem, não te fará menos headbanger, não quebrará nenhum contrato.

Mas o extremo dessa ideologia (ou o extremo da falta de bom senso) são as “fantasias” usadas pelo metaleiro. Como é que alguém pode sair em Salvador, num calor de 30oc, usando camisa preta cheia de estampas, calça e coturno? E o que é pior: de dia, com o sol quente! Até na praia eu já vi gente assim... não com coturno, mas no mínimo uma camisa preta de alguma banda de thrash metal pra cima. Por quê o metaleiro quer sempre mostrar que ele é metaleiro? Não basta ele mesmo saber que é metaleiro? E ainda exportando um estilo de vestir típico de regiões frias, e se gabando por isso, porque isso é ser “true”. Ou ser babaca?

Tem ainda as reclamações de não ser aceito pela sociedade... sem fazer nada para isso! Sem respeitar a sociedade e sua diversidade, sem respeitar outros estilos musicais considerados por eles inferiores, eles exigem respeito ao seu próprio estilo musical. Não poderia ser mais contraditório do que isso. Mas também não se pode esperar muito de uma música que nunca é cantada na língua da terra em que é feita. Ok, isso é explicável: é mais fácil assim.

O metal é um estilo musical. Não é um estilo de vida. Não é uma ideologia. É uma música. Quem quiser fazer disso o horizonte de sua vida, tudo bem, vá em frente. Mas isso não dá a ninguém o direito de exigir o mesmo dos outros, e discriminar quem não segue isso. Cada um que cuide apenas de sua vida.

Por último, só queria deixar claro uma coisa: metal é do caralho. Sim, existem muitas coisas boas além da combinação guitarras dobradas, bumbo duplo, vocal gutural que eu citei acima, mas essa combinação também não é nada mal! E a energia que uma música de heavy metal passa é imensurável... mas melhor parar por aqui senão esse papo ia render mais muitas linhas.

Ps: O autor desse texto sabe que existem exceções ao modelo de “metaleiro” apresentado.


Um comentário:

Unknown disse...

Excelente texto, Gui! Parabéns!
Não é à toa que eu sou sua fã incondicional!