Crônicas de Vários Amores Loucos
Antes de existir o que alguém resolveu chamar de arrocha, existia Júlio Nascimento. Júlio dominou as paradas de sucesso do Nordeste antes do fim do século passado com um som dançante, meloso e simples, que uns diziam ser o legítimo brega, outros a velha seresta. E foi um álbum intitulado "Em ritmo de seresta", que retirou sua música de dentro dos cabarés e a jogou definitivamente nas rádios e nos sons dos carros de muita gente. Nessa época, Júlio Nascimento se dava ao luxo de desistir de show na última hora mesmo contando com multidões à sua espera, e quando resolvia subir no palco, subia tão bêbado que mal conseguia empunhar o microfone.
Lançado pela Gema como K7 em meados da década de 90 e reeditado em CD em novembro de 2002, mesma gravadora que revelou Lairton e Seus Teclados para o Brasil e que já ostentou em seu time nomes da estirpe de Wanderlei Cardoso e Waldick Soriano, "Em ritmo de seresta" é a crônica da vida do pé-inchado que se ausenta de casa por alguns meses para trabalhar, seja como garimpeiro ou caminhoneiro, e quando volta, sua mulher já está com outro. Todas as músicas estão em primeira pessoa, como as clássicas "Leidiane" e "Dalziza", onde Júlio Nascimento narra a história do homem que parte rumo ao garimpo e quando retorna descobre que sua mulher "entregou o amor a quem quiser", como ele enfatiza em "Leidiane".
O teclado é a base de todo o disco e os timbres strings serpenteiam por todas as canções, com uma segurada nos acordes no início de cada faixa que não tem solo. E no mesmo mote do garimpeiro que parte rumo ao trabalho e volta com dinheiro no bolso, mas perde a mulher, estão "Chegada do garimpo" e "Lembranças do garimpo", terceira e quarta canção das 17 que compõem o disco.
Não existe um roteiro lógico entre as músicas. "Vou te matar de prazer" dá uma aula de sedução no bom estilo Júlio Nascimento, mesmo que na seqüência, "A volta da Leidiane", seja a canção do corno que já se conformou, "Luana" possua a mórbida temática do apaixonado que sonha com sua musa e suplica à lua a volta dela, lembrando os lúgubres escritos de Álvares de Azevedo, e "Como um dia de sol", que pode embalar qualquer casal em princípio de namoro. Em "A mãe da Leidiane", Júlio diz que não "prestar" é mal de família e em "A volta da Dinalva", ele prepara o terreno para a música mais doída do disco: "Dinalva". "Dinalva" transporta o ouvinte para uma trágica cena de flagrante de adultério, aonde o interlocutor ao chegar em casa e ouvir sua mulher gemendo, ameaça fazer o uso de sua arma de fogo. Júlio sabe sofrer junto com seus personagens, amar suas musas com intensidade peculiar e narrar a saga do homem traído com a precisão que até então poucos haviam conseguido.
Em "A volta da lua", a décima segunda canção de amor do disco, depois de várias doses de uísque o teclado é quem começa a cambalear. Os solos começam a se alternar como se os dedos do tecladista deslizasse por qualquer tecla, sem muito nexo. O anúncio do telefone de contato ganha destaque enquanto os primeiros acordes de "Deusa" e "Casa vazia" começam indefinidos, ganham sentido quando a quase rascante voz de Júlio Nascimento entoa as letras, mas retornam ao desarranjo do princípio nos solos finais.
Já sem fôlego, "Caminhão amigo", uma espécie de paródia descarada do sucesso do rei Roberto Carlos "120...150...200 km por hora" e a tapa buraco "Se você me prometeu" com seus timbres metalizados, são os motivos que quase tornam "Em ritmo de seresta" insosso em seu epílogo. Mas a última canção, "Sandra meu novo amor", em pouco mais de um minuto, fecha "Em ritmo de seresta" com a classe de suas primeiras músicas, revelando o talento nato de Júlio em lidar com as fêmeas como título de canções.
E é só procurar um boteco cinzento, colocar "Em ritmo de seresta" no som do carro o mais alto possível, ter em mãos uma garrafa com ¼ de cachaça, mortadela cortada em cubos e alguns limões, para começar a falar mal daquela desgraçada que te faz sofrer. Mesmo sabendo que isso só é possível no interior da Bahia.
Lançado pela Gema como K7 em meados da década de 90 e reeditado em CD em novembro de 2002, mesma gravadora que revelou Lairton e Seus Teclados para o Brasil e que já ostentou em seu time nomes da estirpe de Wanderlei Cardoso e Waldick Soriano, "Em ritmo de seresta" é a crônica da vida do pé-inchado que se ausenta de casa por alguns meses para trabalhar, seja como garimpeiro ou caminhoneiro, e quando volta, sua mulher já está com outro. Todas as músicas estão em primeira pessoa, como as clássicas "Leidiane" e "Dalziza", onde Júlio Nascimento narra a história do homem que parte rumo ao garimpo e quando retorna descobre que sua mulher "entregou o amor a quem quiser", como ele enfatiza em "Leidiane".
O teclado é a base de todo o disco e os timbres strings serpenteiam por todas as canções, com uma segurada nos acordes no início de cada faixa que não tem solo. E no mesmo mote do garimpeiro que parte rumo ao trabalho e volta com dinheiro no bolso, mas perde a mulher, estão "Chegada do garimpo" e "Lembranças do garimpo", terceira e quarta canção das 17 que compõem o disco.
Não existe um roteiro lógico entre as músicas. "Vou te matar de prazer" dá uma aula de sedução no bom estilo Júlio Nascimento, mesmo que na seqüência, "A volta da Leidiane", seja a canção do corno que já se conformou, "Luana" possua a mórbida temática do apaixonado que sonha com sua musa e suplica à lua a volta dela, lembrando os lúgubres escritos de Álvares de Azevedo, e "Como um dia de sol", que pode embalar qualquer casal em princípio de namoro. Em "A mãe da Leidiane", Júlio diz que não "prestar" é mal de família e em "A volta da Dinalva", ele prepara o terreno para a música mais doída do disco: "Dinalva". "Dinalva" transporta o ouvinte para uma trágica cena de flagrante de adultério, aonde o interlocutor ao chegar em casa e ouvir sua mulher gemendo, ameaça fazer o uso de sua arma de fogo. Júlio sabe sofrer junto com seus personagens, amar suas musas com intensidade peculiar e narrar a saga do homem traído com a precisão que até então poucos haviam conseguido.
Em "A volta da lua", a décima segunda canção de amor do disco, depois de várias doses de uísque o teclado é quem começa a cambalear. Os solos começam a se alternar como se os dedos do tecladista deslizasse por qualquer tecla, sem muito nexo. O anúncio do telefone de contato ganha destaque enquanto os primeiros acordes de "Deusa" e "Casa vazia" começam indefinidos, ganham sentido quando a quase rascante voz de Júlio Nascimento entoa as letras, mas retornam ao desarranjo do princípio nos solos finais.
Já sem fôlego, "Caminhão amigo", uma espécie de paródia descarada do sucesso do rei Roberto Carlos "120...150...200 km por hora" e a tapa buraco "Se você me prometeu" com seus timbres metalizados, são os motivos que quase tornam "Em ritmo de seresta" insosso em seu epílogo. Mas a última canção, "Sandra meu novo amor", em pouco mais de um minuto, fecha "Em ritmo de seresta" com a classe de suas primeiras músicas, revelando o talento nato de Júlio em lidar com as fêmeas como título de canções.
E é só procurar um boteco cinzento, colocar "Em ritmo de seresta" no som do carro o mais alto possível, ter em mãos uma garrafa com ¼ de cachaça, mortadela cortada em cubos e alguns limões, para começar a falar mal daquela desgraçada que te faz sofrer. Mesmo sabendo que isso só é possível no interior da Bahia.
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